É muito comum, em debates de grande repercussão realizados pela TV com candidatos, os comentários pós-programas. Há quem destaque uma ou outra fala dos postulantes, os conflitos verborrágicos entre os adversários e, ainda, quem “ganhou” ou “perdeu” no debate.
Tudo isto aconteceu também desde que a Band, juntamente com um pool de outros veículos de imprensa (Folha, TV Cultura e UOL entre eles), encerrou o debate com os presidenciáveis, à quase meia-noite do último domingo (28).
A coluna também mete seu bedelho nessa história. E arrisca a dizer que, a rigor, o programa terminou sem grandes novidades. Ou melhor, houve uma grande novidade, sim: a realização do debate. É que os dois protagonistas da corrida presidencial, Lula e Bolsonaro, fizeram suspense até a véspera sobre suas participações. Cogitavam via imprensa, e com firmeza, a hipótese de não comparecerem.
Felizmente deixaram essa ideia de lado, para o bem do processo eleitoral em si e do interesse dos brasileiros que têm o direito de saber como pensam e se comportam os que querem dirigir o país nos próximos anos. E é isto que tem que prevalecer sempre: o interesse coletivo, não o de candidatos que querem fugir da discussão de ideias com adversários.
Seguindo esse raciocínio, é possível dizer que o debate da Band não teve grandes vencedores. Nem perdedores. Lula e Bolsonaro, é notório, ostentam fraturas expostas em suas trajetórias, com relevo para casos de corrupção, postura antidemocrática e desapreço pelas causas femininas. Expuseram em rede nacional, ambos, todo o incômodo que sentem quando confrontados com esses temas. É no mínimo prematuro, entretanto, achar que seus desempenhos vão alterar significativamente o volume de votos que terão ou deixarão de ter em outubro.
A tendência, na modesta projeção feita aqui neste espaço, é que o que o petista e o presidente falaram terá pouca influência no destino deles nas urnas. Se é que terá alguma.
Ainda sobre o debate, é voz corrente que Simone Tebet foi a vencedora da contenda. De fato, a emedebista se saiu bem. Teve boa postura no geral, contundência nas críticas aos dois adversários que lideram as pesquisas e timing apurado para defender a jornalista Vera Magalhães da agressão feita por Jair Bolsonaro, até em dobradinha com Soraya Thronicke, outra participante com bom desempenho no programa.
Ocorre que alguns fatores beneficiam Simone Tebet. Principalmente, o fato de ela poder exercer com tranquilidade a condição de ser pedra, não vidraça. O que a deixou à vontade para questionar e atacar ficando, na quase totalidade do tempo, fora da mira dos adversários. A presidenciável do MDB, dessa forma, teve uma participação considerada exitosa. Daí a considerar essa participação uma vitória a ponto de impulsioná-la rumo ao segundo turno, como muitos sugeriram, vai uma distância.
Sobre Ciro Gomes, não há muito o que acrescentar. Manteve de hábito a língua afiada para provocar Lula e Bolsonaro e o bom conhecimento sobre as questões abordadas. Por outro lado, ainda mostra desconforto ao ser indagado sobre a grosseria cometida há 20 anos contra a atriz Patrícia Pillar, época em que eram casados. Não que ele não tenha que se retratar sempre que confrontado com o tema. É que deveria ter mais serenidade diante do assunto — mesmo porque, conforme reiterou neste domingo, já reconheceu o equívoco da sua atitude e se desculpou por ele.
E só para encerrar a análise geral dos candidatos: a participação de Luiz Felipe d´Ávila (Novo) não teve nada muito digno de nota. Apenas o reconhecimento ao fato de que ele não apelou para tentar aparecer a qualquer custo. Limitou-se a entrar e sair do debate sem ser muito notado.
Diferentemente dele, Soraya Thronicke conseguiu marcar bons momentos, sobretudo na já citada “parceria” (até onde se sabe, involuntária) com Simone Tebet, principalmente na defesa das mulheres. Saiu dela, também, uma das frases mais marcantes da noite, criticando os que são “tchutchuca com homens e querem ser tigrão com as mulheres”. Para bom entendedor...
O saldo final, na visão aqui defendida, é que debates como a da Band não devem amedrontar candidatos e seus comitês. Muito embora seja legítimo a qualquer postulante não atender a convites do gênero, sobretudo quando se está em situação eleitoral confortável, é de bom-tom prestar contas de sua história, por mais incômodos que sejam alguns traços dela, e principalmente expor suas ideias ao eleitorado. Ou, por outra, é mais honesto. Por mais agressivo que seja um ou outro adversário, não se vislumbram riscos de atos extremos. Há, inclusive, meios suficientes para impedir esse tipo de coisa.
Em suma, debate não é bicho papão. E, graças a Deus, mesmo com todo o radicalismo vivenciado no Brasil nos últimos tempos, ninguém vai morrer por participar de um. Amém.
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