Após oito apresentações no Teatro Alberto Maranhão de forma gratuita com tradução para Língua Brasileira de Sinais e Audiodescrição, o Coletivo CIDA (RN) celebra o encerramento da temporada de estreia do novo espetáculo Insanos e Beija-Flores a Dois Metros do Chão com avaliação positiva.
Insanos e Beija-flores a Dois Metros do Chão faz parte de uma criação cênica sequenciada assinada pelo coreógrafo René Loui, que conta com interlocução dramatúrgica de Jussara Belchior (SC), pesquisadora da dança. O projeto traz no elenco nomes que são referências para as artes cênicas norte-rio-grandense: Ana Cláudia Viana, Jânia Santos, Marconi Araújo, Pablo Vieira, René Loui e Rozeane Oliveira.
“‘Intensidade’ é a palavra que define essa temporada de estreia de Insanos e Beija-flores a Dois Metros do Chão. Aliás, essa intensidade vem desde do primeiro dia que nos reunimos para começar o processo de montagem e criação da obra, e foi nessa temporada de estreia que ela se intensificou e tomou conta dos nossos corpos e mentes de uma forma absurda”, comenta o intérprete Marconi Araújo.
“A intensidade de fazer uma temporada com duas sessões diárias, nos levou a uma viagem profunda nas histórias dos indivíduos que cada um de nós personificava, e a cada sessão vivida no palco, nos levava a um lugar que beirava a exaustão física e mental, porém, sempre na sessão seguinte estávamos renovados graças a troca imensa com a plateia. As devolutivas que fomos recebendo nas redes sociais e principalmente nos olhos de cada pessoa ao final de cada espetáculo, nos motivaram a fazer uma entrega ainda maior em cada apresentação. Terminamos a temporada com o sentimento de dever cumprido e inspirados para a próxima temporada”, completa Marconi.
Para a intérprete Rozeane Oliveira, a temporada de estreia desse novo espetáculo foi impactante. “Essa temporada foi incrível!!! Estar ao lado de artistas tão grandiosos e poder partilhar o palco com eles é de uma imensidão inexplicável. Dançar no TAM para tantas pessoas foi outra experiência ainda mais maravilhosa. Apresentamos esse novo trabalho para instituições de ensino pela manhã e ver os alunos atentos com os olhos curiosos foi muito impactante, pois sei a diferença que ações como esta causam no imaginário delas, até mesmo porque provavelmente deve ter sido o primeiro contato com o teatro em si. As apresentações da noite para o público geral foram igualmente maravilhosas, ainda mais porque vimos o teatro cheio em pleno feriadão”, declara Rozeane Oliveira.
Trilogia
Insanos e Beija-Flores a Dois Metros do Chão faz parte de uma trilogia que vem sendo pensada desde 2019. A primeira obra intitulada Corpos Turvos é um grito de socorro para que corpos pretos, pobres, periféricos, soropositivos, corpos pertencentes da ampla comunidade LGBTQIAPN+ e pessoas com deficiência deixem de ser números.
Na segunda parte nomeada Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é Meu Nome, o CIDA continua abordando coreograficamente sobre as individualidades, vivências e identidades de cada um dos intérpretes, mas agora com a presença de Stella do Patrocínio, mulher preta que viveu por quase 30 anos em ambiente manicomial.
O ato final é livremente inspirado na vida e obra de Arthur Bispo do Rosário, mais conhecido como Bispo do Rosário, o espetáculo conta as perspectivas desses seis diferentes indivíduos que convivem num porão e há anos reinventam todas as coisas da Terra. Cada um deles, uma história.
Nascido em Japaratuba, no estado de Sergipe, em 1909, Bispo do Rosário carregava todos os estigmas de marginalização social, ainda vigentes em nossa sociedade. Homem negro, pobre, louco para uns, viveu asilado em um manicômio por 50 anos. Sua obra propunha a ressignificação do universo para ser apresentado no dia do juízo final, e não era visto por ele como arte, era missão.
As três obras complementam-se, mas podem ser vistas, ouvidas e sentidas de modo independente ou em qualquer ordem.
Prêmio Funarte de Estímulo ao Teatro
Esta obra é uma iniciativa do Coletivo CIDA contemplada pelo Prêmio Funarte de Estímulo ao Teatro - 2022 que conta com recursos do Ministério da Cultura e Governo do Brasil.
Criado com o objetivo de fomentar a criação artística de montagens inéditas no campo do teatro, o prêmio tem investimento de um milhão quatrocentos e trinta mil reais. Foram selecionados 10 projetos, entre eles o novo trabalho do Coletivo CIDA com nota máxima na Região Nordeste.
Aceitação do público
Ao longo da temporada, mais de 1.200 pessoas assistiram ao novo trabalho do grupo artístico radicado em Natal. A obra tem recebido muitos feedbacks positivos.
De acordo com o mestre em Artes Cênicas Alleff Emanuell, a obra provocou muitas reflexões. “Nessa dança-tragédia não são somente os insanos e os beija-flores que ficam a dois metros do chão. Como espectador fiquei flutuando entre as muitas reflexões que permeiam entre existências, corpos dissidentes e loucura. São muitas coisas a dizer sobre esse trabalho que provavelmente não há verbo inventado que consiga mensurar a experiência estético-sensorial que é vivenciada”, relata Alleff.
A produtora cultural Carla Alves destacou que esse é um trabalho que merece ser visto. "Recomendo a todas as pessoas que assistam! Pelo talento dos integrantes do coletivo CIDA, pela beleza estética do espetáculo e pela experiência de assistir a um espetáculo com total acessibilidade. A voz de Nara Kelly envolve o público no ritmo da narrativa, proporcionando a visão do palco em palavras, e a tradução de Brígida Paiva é sutil, precisa e poética em movimentos que transbordam emoção. Sem exagero algum, é uma experiência única! Aplausos de pé ao coletivo CIDA”, aponta Carla Alves.
Para quem não conseguiu assistir a estreia de Insanos e Beija-Flores a Dois Metros do Chão, o CIDA informa que em breve serão divulgadas novas datas de apresentação.
Todas as informações sobre o CIDA podem ser acompanhadas através dos canais de comunicação do coletivo. Acesse: www.coletivocida.com.br ou acompanhe o Coletivo no Instagram em: @coletivocida.
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